sexta-feira, 20 de março de 2009

O Crioulo!

Ora aí está a primeira grande dificuldade com que me deparei, o Crioulo.
Esta estranha forma de falar, onde parece que se mistura o português com qualquer outra língua, ou será português mal-falado, ou outra coisa assim. Ainda estão em estudos para ver qual a origem.
Bem, realmente a língua é um obstáculo difícil de superar e que ainda não está ultrapassado.
Ainda para mais tendo eu ficado alojado no interior de Santiago, onde o português é muito pouco falado e onde o crioulo é mais conservador, torna as coisas ainda mais difíceis. Lembro que a primeira frase que aprendi em crioulo foi uma coisa ordinária, como não poderia deixar de ser.
A comunicação aqui é um dos grandes problemas. Estive quase a entrar em confronto físico com uma pessoa e sem saber porquê. Essa pessoa, género masculino, 1,80m de altura, estimo aí uns 70kg, mas com quase 80 anos(?) estava a falar comigo e como eu estava cá à uns 2 dias pensaria ele que eu já entenderia o que me queria dizer. Enquanto ele falava e depois de várias tentativas goradas em querer explicar ao homem que eu não entendia crioulo, comecei a acenar sempre com a cabeça e a responder com aquelas frases que mostram todo o nosso interesse naquela conversa. “Sim, sim!”, “Claro, tem toda a razão” e o célebre “Pois, pois”. A uma dada altura o homem começa a ficar furioso e não fosse um amigo português a meter-se na conversa e explicar, em crioulo, que eu não entendia nada do que ele estava a falar, acho que o cajado onde ele se apoiava para se fazer deslocar teria vindo parar directamente à minha cabeça. Depois de sanado o conflito e feito as pazes com o homem percebi porque é que ele ficou danado comigo. É simples, o assunto era a partida dos portugueses de Cabo Verde e ele questionou-me se tinham feito bem ao abandonar o país, à qual eu respondi “Sim, sim!”. Essa conversa foi aterradora para mim, pois ele enquanto falava lançava perdigotos que se assemelhavam a autênticos besouros que zumbiam nos meus ouvidos quando passavam, e mais, ele insistia a erguer a mão ao mesmo tempo que explanava as suas ideias, o problema é que nessa mão não estavam cinco dedos, mas seis. A meio do dedo mindinho nascia outro, com unha e tudo. Incrível!
Nesse mesmo dia tinha mudado as minhas coisas para um hotel/residencial, quando chego nessa noite deparo-me com a porta fechada. O guarda teve que sair e o portuga dormiria na rua não fosse a casa onde eu estava hospedado ter uma cama livre. Terá sido castigo?

Dexâ-m’ quétu!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cabo Verde

Cabo Verde foi descoberto em 1460 por Diogo Gomes ao serviço da Coroa Portuguesa. Este arquipélago situa-se a 640Km a Oeste do cabo Verde, Senegal, e foi-lhe atribuída, brilhantemente, a mesma denominação. O Diogo foi inteligente, porque quando ele pensava no nome que ia dar a este território lembrou-se, “- Qual é a terra mais próxima daqui? Humm! Cabo Verde. O “c” de cabo (nome comum) passo a “C” (nome próprio) e já está.”. Iluminado, o gajo!
Logo a seguir, veio a terra e iniciou a colonização por um local que se chama “Ribeira Grande”, o porquê deste nome é que também mostra a lucidez e brilhantismo deste homem. É que nesse local existe uma ribeira que, imaginem, é grande. Pronto, mais um nome. Agora, esse local é designado por “Cidade Velha”, mas não me perguntem porquê, porque sinceramente não sei. Os portugueses sempre foram muito bons a atribuir nomes a qualquer coisa. Com a excepção da ilha do Maio e o Sal (esta chamava-se Plana) e porque os nomes dos santos dos dias em que foram descobertas já deviam estar ocupados, todas as ilhas tiveram nomes de santos, contudo agora algumas não os mantiveram, Fogo (S. Filipe), Brava (S. João) e Boa Vista (S. Cristóvão). O Maio porque foi o mês em que foi descoberto, Plana porque a ilha é, imaginem só,…, plana, agora chamada de Sal, porque tem… salinas, o Fogo simplesmente porque é ainda um vulcão activo, a Brava porque era uma ilha selvagem e de difícil acesso, e reza a história que a Boa Vista se chama assim porque ouve alguém que em vez de dizer “terra à vista” gritou “boa vista”. Vá lá que Santiago, S. Nicolau, Santa Luzia, S. Vicente e Santo Antão se mantiveram. Se fosse hoje Santiago poder-se-ia chamar de Nova Amadora, apenas porque a proporção portugueses-caboverdianos-guineenses cada vez mais se assemelha à Amadora, mas não pensem que é porque a população portuguesa está a aumentar, é que há muito caboverdiano a regressar à terra.

Até amanhã!

terça-feira, 17 de março de 2009

Epílogo

Depois uma já longa estadia nas terras meridionais da Macaronésia chegou a altura de realizar uma pequena e simples abordagem a este tema.
Encontro-me nestas paragens desde o décimo primeiro mês do sétimo ano após o anunciado Armagedão. Tempo suficiente para conhecer, nem que seja superficialmente, as gentes e costumes deste território formado por vários promontórios vulcânicos.
Encontro-me na ilha de Santiago, e foi a pequena cidade da Assomada, concelho de Santa Catarina, que me recebeu. Agora moro na capital do país, uma grande cidade com…100.000 habitantes.

Para mim aquele choque, que algumas pessoas falam quando chegam à Cidade da Praia, não existiu. Apenas esquecendo a parte em que as minhas malas não apareceram, mas isso que era um grande problema na altura, deixou de o ser depois de me habituar.

Aqui vive-se um pouco no ritmo das Caraíbas, sem stress. As Caraíbas mandam para cá o ritmo e Cabo Verde manda-lhes os furacões. É justo!
Dizem também que Cabo Verde envia para outros países, tipo Portugal, Holanda,…, aquilo que faz com que todo o mundo fique com o ritmo das Caraíbas (yow men, tá-se bem), mas eu não me acredito. As pessoas más é que dizem que a malta anda com os olhos inchados e vermelhos por causa dos estupefacientes mas o que é certo é que aqui tem muito vento e muito pó..no ar. Deixa lá, elas não percebem.

Estava eu a dizer que aquele impacto que qualquer pessoa que chega do 1.º Mundo a um país do 2.º/3.º Mundo não existiu, talvez porque tivesse partido de Lisboa...

A fase de adaptação foi dura e duradoura, acho que demorou 3 dias, tempo em que participamos na primeira festa, e o efeito da bebida local (o grogo/grogue) ser extremamente dilacerante numa pessoa que não está acustumada a beber bebidas alcoolicas. Coitadinhos!!!

Claro que das coisas mais difíceis a habituar foi a lingua. Apesar de se assemelhar muito à portuguesa, não é bem igual. Existem algumas variações. Por exemplo, existe o grogo de 1ª, de 2ª e o velho... Ao passar na lingua é diferente da nossa aguardente.

Pensavam que estava a falar do dialecto...

Só dá pa dôdo. Manhã si um teni vontadi sta screbi mas.

O despertar!

Pois é! Já estava na altura de criar um blog que relatasse alguns dos acontecimentos que vão ocorrendo por terras crioulas.

O título deste post diz tudo. Depois de ter a alguns anos deliciado os meus (3) leitores assíduos com os meus textos num espaço da concorrência, e depois de muitas solicitações e de reflectir imenso, resolvi criar este magnífico blog.

Vamos ver se vou conseguir chegar ao mesmo patamar do anterior, ou quiçá superá-lo.

Aguardem pois, com paciência e dedicação, a afixação de textos de um nível cultural sublimamente elevado (a zero).

Cumprimentos